Possuir uma Bíblia pode levar à prisão e tortura na Coreia do Norte, denunciam organizações internacionais 27424e
Mundo – A posse de uma Bíblia é considerada crime grave na Coreia do Norte, um dos países mais fechados e repressivos do mundo. Segundo diversas organizações internacionais de direitos humanos, cidadãos flagrados com exemplares do livro sagrado podem ser presos, condenados a trabalhos forçados ou até mesmo executados.
De acordo com relatório publicado recentemente pela ONG Portas Abertas, especializada no monitoramento da perseguição religiosa, a Coreia do Norte lidera há anos o ranking dos países onde há maior repressão à liberdade de crença. “Possuir uma Bíblia, distribuir folhetos religiosos ou participar de reuniões cristãs secretas são atos considerados traição ao Estado e severamente punidos”, alerta o documento.
O regime de Kim Jong-un considera a propagação do cristianismo uma ameaça direta à estabilidade do governo e à ideologia oficial do país, baseada no culto à personalidade da dinastia Kim e na doutrina Juche, que prega a autossuficiência nacional. Por isso, qualquer expressão religiosa independente é tratada como subversiva.
Prisões e campos de trabalhos forçados
Fontes independentes e relatos de desertores norte-coreanos indicam que pessoas presas por possuírem Bíblias ou outro material cristão são frequentemente enviadas a campos de prisioneiros políticos, conhecidos como kwan-li-so. Nesses locais, as condições são descritas como desumanas, com relatos de fome, tortura e trabalho forçado.
“É difícil dimensionar a quantidade de cristãos presos atualmente, mas estima-se que dezenas de milhares estejam detidos apenas por praticar sua fé ou possuir uma Bíblia”, afirmou à imprensa Yoon Hyun-woo, pesquisador da ONG Human Rights Watch na Ásia.
Em um dos casos mais recentes e documentados, uma mulher de 30 anos foi detida na fronteira com a China ao tentar contrabandear Bíblias para dentro da Coreia do Norte. Ela teria sido submetida a interrogatórios violentos antes de ser condenada a 15 anos de prisão em regime fechado.
Um “crime contra o Estado”
Para o regime norte-coreano, a Bíblia é mais do que um livro religioso: é um símbolo de influência estrangeira e uma ameaça ideológica. O governo promove campanhas sistemáticas de propaganda para alertar a população contra a “infiltração religiosa” e realiza batidas regulares em residências, escolas e fábricas à procura de material cristão ou ocidental.
“Ser pego com uma Bíblia significa ser acusado de crime contra o Estado. Para o governo, não é apenas uma questão de fé pessoal, mas de segurança nacional”, explica Greg Scarlatoiu, diretor-executivo do Comitê para os Direitos Humanos na Coreia do Norte, com sede em Washington.
Perseguição silenciosa
Apesar das severas punições, estima-se que haja entre 200 mil e 400 mil cristãos secretos vivendo na Coreia do Norte, que praticam sua fé em pequenos grupos clandestinos. Muitos dependem de contrabandistas que, arriscando suas vidas, cruzam a fronteira com a China para levar Bíblias, alimentos e outros suprimentos.
Organizações como a Open Doors, que monitora a perseguição religiosa em todo o mundo, afirmam que o risco é constante. “Na Coreia do Norte, você não pode confiar nem na sua família. Muitos são denunciados por vizinhos ou parentes próximos”, explica um relatório da entidade.